segunda-feira, 27 de maio de 2013

O que fazer quando a Palavra não te impacta mais?


“O que você faz quando a pregação da Palavra não te impacta mais como antigamente?” Essa é a pergunta que me foi feita recentemente por um jovem sincero que aparenta estar buscando honestamente ao Senhor.

Muitos de nós conseguem se identificar com essa questão por já terem estado nessa situação. Nos lembramos do impacto que os sermões tinham sobre nós no passado – impressões fortes, convicções intensas, ilustrações poderosas – mas agora, nos sentimos como estátuas frias e inanimadas enquanto escutamos aos mesmos pregadores pregando os mesmos sermões. O que deu errado? Isso pode variar para pessoas diferentes, mas deixe-me sugerir algumas possibilidades.

1. Cansaço

A principal causa para uma escuta improdutiva da Palavra é a fadiga e, até mesmo, a exaustão. Trabalhamos muito e por muito tempo durante a semana. Nos sentamos e nos aquietamos pela primeira vez no Domingo pela manhã e, surpresa, nossas pálpebras começam a pesar como chumbo e nossos corpos começam a escorregar no banco da igreja. Uma hora extra de sono a cada noite pode reviver nossas almas.

2. Distração

Sábado à tarde e à noite são bons momentos para resolver pendências da semana e se preparar para a Segunda. Se não fazemos isso no sábado, estaremos fazendo pelo Domingo, mesmo que mentalmente, na igreja.

3. Indisciplina

Se nós não estamos lendo as nossas bíblias e orando de forma regular e disciplinada durante a semana, não podemos realmente esperar que estejamos espiritualmente sintonizados e sensíveis no domingo.

4. Pecado

Como pecados impenitentes formam uma barreira entre nós e Deus, precisamos nos certificar de que não há nada importante em nossas vidas bloqueando a bênção de Deus.

5. O pregador

Pode ser que o pregador esteja pregando uma série de sermões em um livro ou assunto que não se encaixa com as suas necessidades espirituais do momento. Apesar disso testar a nossa paciência, considerar o longo prazo pode mitigar nossa frustração. Não, você não precisa tanto dessas verdades/dessa série agora, mas pode guardar isso na sua mente e coração para quando precisar no futuro. Talvez nós possamos mortificar o nosso egoísmo orando: “Senhor, eu não estou absorvendo nada desse sermões mas estou grato por outros estarem e oro pela sua bênção sobre eles”.

6. Soberania

Deus pode estar testando a nossa fé ao nos deixar experimentar um período de frieza para com a Palavra. Nós andaremos pela fé até mesmo quando não há sentimentos nos ajudando no percurso? Nós escutaremos, confiaremos e obedeceremos mesmo quando não estamos sendo inspirados e movidos pela pregação?

7. Humildade

Deus também pode usar esses períodos para humilhar os nossos corações e nos mostrar quanta dureza ainda há em nós. “Estou ouvindo as mais belas verdades e isso me deixa frio como pedra. O pregador está derramando o seu coração nisso e eu nem posso ter certeza de que tenho um coração”. Essas experiências dolorosas revelam como ainda precisamos trabalhar a santificação dos nossos corações.

8. Encorajamento

O fato de estarmos incomodados com a nossa frieza espiritual é um sinal tranquilizador. Se estamos indiferentes sobre estarmos indiferentes, despreocupados com a nossa falta de preocupação, isso é, de fato, preocupante. Entretanto, o próprio fato de sentirmos e lamentarmos isso no mostra que Deus tem trabalhado em nossos corações. Podemos nos lembrar de quando olhávamos para a Palavra sem um mínimo de vida espiritual e isso não nos incomodava nem um pouco. Que isso nos incomoda agora e nos faz orar por uma transformação de coração revela um coração que já foi soberanamente transformado.

Traduzido por Kimberly Anastacio | iPródigo.com via Bereianos

segunda-feira, 20 de maio de 2013

E se João Batista fosse famoso?


Luzes, câmeras, multidão. Esta é a marca do sucesso. Esta é a dica de que algo está funcionando. Pelo menos é isso que a gente vê hoje em dia. João Batista era um “produto exportação” do seu tempo. Tinha até estilo exclusivo (“usava uma roupa feita de pelos de camelo e um cinto de couro e comia gafanhotos e mel do mato”, v.6). Hoje em dia isso aumentaria o seu sucesso e alavancaria os multiprodutos com a sua marca: Grife JB, Snacks em forma de grilo com gostinho de mel, artigos de couro do João, além da família de bonecos. Pelo menos quatro linhas de produtos de sucesso, sem contar os milhões de acessos garantidos nos reprodutores de mídia online que lhe dariam bons retornos financeiros com os patrocínios no seu canal exclusivo.

Ele tinha uma mensagem forte, tinha uma imagem forte, tinha uma presença marcante; ele tinha um público fiel, tinha influência sobre as pessoas, era popular. Ele tinha tudo pra ser a estrela da sua geração. Ele tinha seus seguidores, seus discípulos. Ele até foi confundido com o Messias que haveria de libertar o povo. Talvez muitos a sua volta o serviam, davam presentes, ofereciam seus “préstimos”. Tudo estava dando certo. Tudo estava correndo bem. Dá até pra imaginar o “ar” de satisfação de seus “assessores e diretores de marketing”.

No “auge da sua carreira”, entretanto, João faz uma declaração que poderia deixar todos perplexos. Ele diz que havia alguém “mais importante do que ele”. Isso não é uma coisa que uma celebridade pode dizer a qualquer um e a qualquer momento. Ele vai além: “não mereço a honra de me abaixar e desamarrar…”. Como pode João falar isso?! Primeiro, abaixar-se para alguém é um sinal de submissão; segundo, desamarrar as correias de uma sandália era função de um escravo bem “rebinha”, talvez o de mais baixo valor da casa; terceiro, ele diz que isso seria uma honra; quarto, ele reconhece que não merece tal honra. Que que é isso, rapaz!

No auge do sucesso João se coloca na mais baixa condição. Mas ele não se importa, nem treme, nem sua a frio, nem titubeia. Declara de boca cheia e com imensa convicção. Este antimarketing poderia causar um grande prejuízo nos empreendimentos com a sua marca e sua imagem. Mas ele não se importava, porque sabia que maior que o seu discurso era aquele a quem ele estava preparando o caminho. João sabia que mais valiosa que a sua popularidade era a integridade da sua missão. Sabia que o melhor lugar era estar aos pés de Jesus, mas que isso não dependia dos seus méritos, e sim da graça divina.

Ao avaliar o decorrer da história, logo chego à conclusão de que mais alto que o topo do mundo é o lugar onde reconhecemos que desamarrar as sandálias do nosso Senhor é uma honra, e não a merecemos.

Popularidade hoje é fácil de conquistar. Integridade e fidelidade à missão é uma outra história. Façam as suas escolhas.

“Muitos moradores da região da Judeia e da cidade de Jerusalém iam ouvir João. Eles confessavam os seus pecados, e João os batizava no rio Jordão… Ele dizia ao povo: – Depois de mim vem alguém que é mais importante do que eu, e eu não mereço a honra de me abaixar e desamarrar as correias das sandálias dele”. (Marcos 1.5-7)

Fonte: Rodolfo Gois é diretor pastoral do TeenStreet Brasil e pastor da IPIB de Maringá, PR, via PC Amaral

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Palácio para Deus?

 
Foto: Obras do "Templo de Salomão da IURD, em SP

O Antigo Testamento está repleto de passagens que reiteram a importância do Templo para os israelitas. Para ele eram levadas as ofertas e sacrifícios. Nele o povo se reunia para adorar a Deus. Davi sonhou em construí-lo, mas foi Salomão que concluiu a obra, o que lhe rende grande fama até hoje. O templo era o centro do culto a Deus no Antigo Testamento, mas ao que parece essa visão ainda está presente em muitas igrejas atualmente.

Prova de que a centralidade do templo anda em alta no meio do povo cristão está patente aos olhos de quem contempla as megaconstruções, às vezes sem fim, de igrejas. A justificativa está quase sempre amparada em textos bíblicos do AT. No final das contas, quase todo o dinheiro arrecadado que sobrou das despesas fixas teve como destino a conclusão da obra (do templo, não de Deus).

Poucas heresias têm sido tão bem sucedidas como esta, que se tem disseminado entre as mais diferentes denominações sob o disfarce de glorificação do nome do Senhor, “que é santo, grande e belo, e por isso merece um palácio”, como alguns gostam de dizer. Na verdade, o que está por trás desse anseio que muitos líderes têm por ver suas casas de oração impecavelmente acabadas é a velha e conhecida vaidade, que causou a queda do homem e de Satanás e ainda faz estagnar ministérios limitados às quatro paredes, impecavelmente pintadas, por sinal.

Já perdi as contas de quantas vezes ouvi o mesmo discurso em torno do templo. Campanhas e mais campanhas são feitas para terminar aquela parte ali e começar aquela acolá. A coisa vira uma bola de neve e nunca tem fim. Os crentes se empolgam em torno da mais recente obra eclesiástica inaugurada, dão glórias a Deus e motivam-se ainda mais a contribuir para a conclusão do Palácio para o Rei dos reis.

Enquanto isso, a crise humanitária nas mais longínquas regiões do planeta, ou ali mesmo na esquina, passa despercebida. A seca, a violência urbana e a miséria na favela ao lado são assuntos retóricos, e se o Poder Público não faz, não se deve responsabilizar as igrejas. Fotos de missionários implorando por auxílio financeiro enfeitam as paredes do templo, e ex-drogados, ex-presidiários e ex-doentes são trazidos à baila com seus testemunhos para refrigerar nossas consciências e comprovar que a igreja está fazendo a coisa certa.

O discurso até pode variar, mas a prática é quase sempre a mesma. Algumas moedas para as agências missionárias carentes, um discurso retaliador a obras sociais supostamente ancoradas na Teologia da Libertação e o carnê da construção no bolso, e deste pro gazofilácio. Afinal, Deus é maravilhoso, e merece mármore, granito e, se possível, um santo dos santos como o que está descrito na Bíblia. E não se pode esquecer os bancos confortáveis para os membros fieis (leia-se dizimistas), ambiente climatizado para aumentar o conforto dos filhos da promessa e um púlpito digital para otimizar a mensagem pregada.

Onde é que estamos, Senhor? Que santidade é essa que pregamos que faz do supérfluo prioridade e transforma missionários em pedintes? De que parte do discurso de Jesus aprendemos que tu te importas mais com templos que com vidas?

Não estou aqui propondo que as igrejas deixem de investir completamente em seus edifícios, nem afirmando que comprar aparelhos de ar condicionado ou bancos acolchoados seja sempre futilidade. Sei muito bem que cada comunidade tem seu contexto e suas necessidades específicas. Estou perguntando a você e a mim mesmo, que somos a Igreja, onde estamos colocando nossos dízimos e ofertas. E presumo que a resposta não seja a mais satisfatória.

Pergunto-me se quando Cristo voltar as paredes dos templos irão encontrar com ele nas alturas juntamente com a Igreja. Acho que não. E tenho cá minhas dúvidas de que se trata de cegueira espiritual. Está mais para leviandade, comodidade e vaidade. E ouso afirmar que a Igreja será rigorosamente cobrada pela forma como tem tratado questões bíblicas urgentes e prioritárias.

“Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes. Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos. Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna”. Mt 25:41-46.

Fonte: Bereianos

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A simplicidade do Evangelho e a sofisticação da Igreja


Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres. (Apocalipse 2:4-5) 

O evangelho de Jesus Cristo é simples. Simples na forma e simples no conteúdo. A vida e o ministério de Jesus acontecem num cenário simples. Ele anunciou as boas novas do reino de Deus, demonstrou a presença do reino através de palavras, exemplos e ações. Convidou pessoas para estarem e aprenderem com ele. Sofreu as incompreensões do sistema religioso e político do seu tempo. Morreu e ressuscitou. Após a ressurreição, encontrou-se com seus discípulos e comunicou-lhes que recebera toda autoridade no céu e na terra, e que, como Rei e Senhor, enviou seus discípulos para anunciarem as boas novas, levando homens e mulheres a guardarem tudo o que ele ensinou, integrando-os numa comunidade trinitária por meio do batismo, e prometeu estar com eles todos os dias, até o fim.

Alguns dias depois, no meio da festa de Pentecostes, 120 discípulos estavam reunidos em Jerusalém, e a promessa de Jesus se cumpriu. Todos foram cheios do Espírito Santo, começaram a viver a nova realidade anunciada por Jesus, saíram alegremente, por todo canto, pregando a boa notícia de que Deus visitou seu povo e trouxe salvação, justiça e liberdade.

A história seguiu e os cristãos foram se multiplicando, organizando igrejas, criando instituições, formas e ritos. Porém, as instituições cresceram e suas estruturas se tornaram mais complexas e sofisticadas. Transformaram-se num fim em si mesma. A simplicidade do evangelho foi substituída pela complexidade institucional.

C. S. Lewis, na carta 17 do livro “Cartas de um Diabo a seu Aprendiz”, aborda o tema da glutonaria e afirma que uma das grandes realizações do maligno no último século foi retirar da consciência dos homens qualquer preocupação sobre o assunto, e isso aconteceu quando ele transformou a “gula do excesso na gula da delicadeza”. Para C. S. Lewis, o problema da gula, muitas vezes, não está no excesso de comida, mas na sofisticação, na exigência de detalhes em relação ao vinho, ao ponto do filé ou ao cozimento da massa. Fica impossível atender a um paladar tão sofisticado. A simplicidade do ato de comer dá lugar à sofisticação gastronômica. Pessoas assim, segundo o autor inglês, demitem cozinheiras, destratam garçons, abandonam restaurantes, cultivam relacionamentos falsos e terminam a vida numa solidão amarga.

Como igreja, corremos o mesmo risco. A simplicidade e pureza do evangelho já não provocam prazer na maioria dos cristãos ocidentais. A sofisticação da igreja, sim. É o vaso tornando-se mais valioso que o tesouro contido nele. Se a música não estiver no volume perfeito, o ar condicionado no ponto exato, a pregação no tempo apropriado, com conteúdo que agrade a todos os paladares e com o bom uso dos aparatos tecnológicos, talvez eu não me agrade desta igreja.

Justificamos a sofisticação com expressões como “busca por excelência”, “relevância”, “qualidade”. Parece justo. O problema é que a excelência ou a relevância do evangelho está exatamente na sua simplicidade. É cada vez mais fácil encontrar cristãos que acharam a “igreja certa” do que os que simplesmente encontraram o evangelho. A sofisticação da igreja mantém o cristão num estado de espiritualidade falsa e superficial. A maior deficiência do cristianismo não está na forma, mas no conteúdo.

A verdadeira experiência espiritual requer um coração aquecido e não sentidos aguçados. Precisamos elevar nossos afetos por Cristo, seu reino, sua Palavra e seu povo, e não os níveis de sofisticação e exigências institucionais. O vaso deve ser de barro, sempre. O tesouro que ele guarda, o evangelho simples de Jesus Cristo, é que tem grande valor. A sofisticação produz queixas, impaciência, falta de caridade e egoísmo. A simplicidade sempre nos conduz a compaixão, sinceridade, devoção e autodoação.

Autor: Pr Ricardo Barbosa de Sousa
Fonte: PC Amaral
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