As igrejas evangélicas contemporâneas adotaram uma prática religiosa
que limita o crescimento pessoal de seus membros. Essa é a visão do
pastor Ed Rocha, que está à frente de um movimento de discipulado
chamado Pier49.
Para o pastor Rocha, as igrejas centralizadas – que ele chama de
senzala – terminam tornando a experiência em comunidade algo artificial e
impedem que os fiéis tenham oportunidade e liberdade de questionar seus
líderes.
“Existem igrejas que querem formatar você. Numa igreja com o sistema
senzala, as pessoas são atraídas pela presença de Deus, mas são
estimuladas — muitas vezes de forma sutil e subliminar — a serem
formatadas”, opina.
As grandes congregações, com centenas ou milhares de membros, têm uma
deficiência: seus pastores são limitados em sua capacidade de
influenciar corretamente. “A psicologia diz que você consegue
influenciar até 100 ou 150 pessoas no máximo. Passando disso, o
relacionamento passa a ser plástico”, diz o pastor.
“Em um modelo de liderança centralizada, as pessoas não podem ser
quem são, dizer o que pensam e se expressar como gostariam. Elas acabam
se formatando dentro de um molde predeterminado que, muitas vezes, é
contrário à sua própria natureza. As pessoas acabam abraçando os
hábitos, os jargões, a linguagem, o comportamento e a cultura daquela
igreja para se sentirem parte do grupo”, avalia.
A cultura evangélica nacional é um ponto de sustentação do argumento
do pastor, já que não é raro encontrar, dentro das diversas correntes do
evangelicalismo brasileiro, subdivisões que são marcadas pela forma
característica de se vestir, cultuar e até dialogar, à base de termos
(reteté, por exemplo), que só fazem sentido naquele universo
comunitário.
“Jesus liderava através da humildade e do serviço. O sistema de
liderança de Jesus não é centralizador, não depende tudo dele. Pelo
contrário, ele empodera as pessoas e compartilha a autoridade que ele
tem”, observa o pastor.
O avivamento, tão sonhado pela Igreja, pode acontecer através de uma
mudança na forma de discipular os fiéis: “Jesus chamou para serem
discípulos quem ele queria. Na igreja você acaba tendo que discipular
pessoas que não escolheria. Mas o sistema te força a isso, porque é um
sistema de discipulado geográfico. A afetividade não é levada em conta a
afetividade e você acaba recebendo pessoas que você não deveria confiar
a intimidade do seu lar”.
Polêmico, Rocha sugere que a afinidade entre os fiéis seja um
critério para a formação de pequenos grupos, que se reúnem em cultos
domésticos, estudos da Palavra, lazer e outras atividades.
“Quando há um relacionamento baseado em amor, é possível olhar nos
olhos e dizer o que se pensa, porque não há medo de perder o
relacionamento. Quando o relacionamento é baseado em comportamento, a
pessoa fica sempre preocupada em ofender, fazer algo errado e perder a
conexão”, afirma Rocha.
“Muitas igrejas têm essa mentalidade de máquina, onde quando você não
começa a funcionar de acordo com o padrão, é trocado por outro que
funcione. Nesse tipo de relacionamento comportamental, nós somos peças
na máquina. A partir do momento em que a peça está defeituosa, ela é
trocada e esquecida. É colocada uma peça nova que faz a máquina
continuar funcionando”, critica o pastor.
Por fim, Ed Rocha demonstra audácia ao fazer uma crítica severa, mas
construtiva: “O problema é que hoje, em nosso sistema eclesiástico, o
que sustenta a igreja não é o amor, mas sim a performance. Só quando nós
abraçarmos o modelo de discipulado por afetividade e de igreja
descentralizada que Jesus deixou para nós, iremos viver a plenitude do
nosso chamado como igreja, que é ser uma família”, conclui.
Fonte: Gospel+, por Pr. Ed Rocha
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