segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Como posso adorar a Deus em espírito e em verdade?


Todo escritor precisa organizar um enredo para escrever. Esse enredo pode ser apenas mental, ou pode ser escrito. O importante é manter os temas e subtemas, os questionamentos e as respostas em uma ordem lógica que leve o leitor a entender exatamente o que se deseja mostrar através da produção escrita. Quando João escreveu seu evangelho, ele certamente tinha um enredo. Seu enredo organizava os eventos que envolviam Jesus de forma que o leitor pudesse chegar à conclusão que Ele era o Cristo. 

João mesmo deixou esse propósito bem claro: “Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.”[1] Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são conhecidos como os evangelhos sinópticos. Esses evangelhos recebem esse nome pela grande quantidade de histórias em comum, relatadas na mesma sequência e, algumas vezes, utilizando exatamente a mesma estrutura de palavras para contar a mesma história. 

Lucas não foi testemunha ocular de nenhuma das histórias que escreveu em seu evangelho. Seu objetivo era relatar a Teófilo tudo quanto ouviu a respeito de Jesus, e seu trabalho assemelha-se a de um historiador. “Visto que muitos têm empreendido fazer uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, segundo no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra, também a mim, depois de haver investido tudo cuidadosamente desde o começo, pareceu-me bem, ó excelentíssimo Teófilo, escrever-te uma narração em ordem. Para que conheças plenamente a verdade das coisas em que foste instruído.”[2] 

Lucas deixa bem claro que seu objetivo era fazer um relato em ordem cronológica dos eventos, assim como muitos já haviam feito. Não acredito que João tivesse a mesma intenção ao escrever seu evangelho, e a narrativa única de seu evangelho pode ser mais uma evidência de que João não construiu seu enredo com base na ordem cronológica dos eventos, mas numa ordem teológica de argumentos. 

Uma vez que o objetivo de João era levar as pessoas a crerem em Cristo através dos relatos de sinais que identificavam Jesus como o Filho de Deus, é bem provável que seu enredo ordenasse propositadamente tais eventos. É por esse motivo que o evangelho de João é tão diferente, não só na ordem cronológica, como também na própria seleção das histórias e como elas são interligadas. Tendo dito isso, abordarei como a ordenação dos eventos no evangelho de João pode trazer luz à compreensão do versículo favorito da maioria dos ministros de música: “Deus procura adoradores que o adorem em espírito e em verdade”.[3] 

João trabalha alguns temas recorrentes em seu evangelho e nas epístolas. Há fortes advertências contra os ensinos heréticos do gnosticismo e docetismo, origem dos maiores ataques contra a doutrina das igrejas em sua época. Ele relata com detalhes todos os diálogos e milagres de Cristo que mostram a sua divindade além de sua natureza humana. E ele também dá muita ênfase às mudanças que uma pessoa sofre depois da conversão. 

Leia sua primeira epístola e observe que esses assuntos são recorrentes; resumidamente nas epístolas, mas extensamente trabalhados em seu evangelho. Quanto às mudanças sofridas pelas pessoas que se convertem, João sequencia duas conversas de Jesus de mesmo tema. A primeira é a conversa de Jesus com Nicodemos; a segunda, sua conversa com a mulher samaritana. 

Inquestionavelmente a conversa de Jesus com Nicodemos tem ênfase na nova natureza que os filhos de Deus recebem pós-conversão, assunto que ele vem introduzindo desde a abertura de seu evangelho: “Mas, a todos quantos o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”.[4] Ele passa também pelos símbolos de novo nascimento no batismo e na transformação de água em vinho até, finalmente, narrar a conversa de Jesus com Nicodemos no capítulo 3. 

A parte chave da conversa com Nicodemos que nos interessa é: “Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.”[5] Acredito que a última sentença, destacada acima em negrito, pode explicar como é possível alguém adorar a Deus em espírito. 

Se João realmente estava elaborando o seu enredo privilegiando os elementos que conduzem a um pensamento ou entendimento teológico a respeito de Cristo e da nova natureza do convertido, a sequência das histórias de Nicodemos e da história da mulher samaritana é proposital. Precisamos considerar cada uma delas como parte de um todo, do entendimento que se pode ter dessas duas histórias em conjunto. 

Quando a mulher samaritana questiona Jesus sobre qual seria o local correto para adorar a Deus, ele responde: “Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos; porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem”.[6] 

Em outras palavras, o que Jesus poderia estar dizendo era que não importa o lugar onde se deve adorar, o que realmente interessa é nascer de novo, pois só quem nasce de novo não é mais carne, mas espírito; somente quem nasceu de novo nasceu do espírito e poderá adorar o Pai em espírito em qualquer lugar. 

Perceba a similaridade entre essas duas declarações de Jesus: 1) “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito”; 2) “Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” 

Portanto, adoramos a Deus em espírito após recebermos a nova natureza espiritual na conversão e adoramos em verdade quando adoramos com sinceridade e de todo o coração. Eu vejo a ligação entre as declarações de Jesus nas histórias de Nicodemos e da mulher samaritana como um paralelismo muito profundo e intencional da parte de João. Há uma teologia muito complexa entre essas histórias, e o que está exposto neste texto é apenas um vislumbre. 

Espero que você também possa ver a importância da sua conversão, do nascer de novo, de sua nova natureza espiritual, e como ela faz toda a diferença na sua adoração a Deus!
 
Notas: 
[1] João 20:30-31
[2] Lucas 1:1-4 
[3] João 4:24 
[4] João 1:12. 
[5] João 3:6. 
[6] João 4:22-23

Fonte: André R. Fonseca, via Bereianos e Teologia et cetera

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Um cristão sem palavra é vergonha para o Evangelho


Poucas coisas são tão irritantes quanto conviver com alguém que não mantém a sua palavra, em cujas promessas não se podem confiar. Combinou de se encontrar com alguém assim, num determinado horário? Se prepare e conte até 10, pois ela te deixará “de molho” até que resolva aparecer, e o pior, quando chegar agirá como se estivesse fazendo um grande favor em ir ao local que ela mesma combinou. 

Os exemplos são sem fim, desde coisas simples, até compromissos que podem ocasionar grandes complicações. Elas simplesmente não se importam em manter a palavra que proferiram, em cumprir suas promessas, em comparecer no compromisso firmado ou em te ajudar conforme declarou que faria. Mas quando se trata de um cristão, mais do que irritante, esse tipo de atitude é absolutamente reprovável e a Palavra de Deus está recheada de exortações e ensinos a esse respeito. 

Talvez o texto mais conhecido sobre este assunto seja o encontrado em Mateus 5:37, onde Jesus ensina seus discípulos no episódio conhecido como o sermão do monte. Ali o Mestre afirma que, se dissermos sim, que seja sim realmente, e se dissermos não, que de fato seja não, pois agindo diferente estaremos servindo a propósitos malignos.

“Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna”. (Mt 5:37) 

Que conclusão perturbadora Jesus dá a essa questão! Não é admissível que nós, enquanto professantes da fé cristã, ignoremos isso. Mas eu gostaria de citar outro texto muito interessante, um salmo onde Davi medita sobre as características encontradas naqueles que habitarão com Deus. Trata-se do salmo 15, onde ele escreve: “Senhor, quem habitará no teu santuário? Quem poderá morar no teu santo monte? 

Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo, que de coração fala a verdade e não usa a língua para difamar, que nenhum mal faz ao seu semelhante e não lança calúnia contra o seu próximo, que rejeita quem merece desprezo, mas honra os que temem ao Senhor, que mantém a sua palavra, mesmo quando sai prejudicado, que não empresta o seu dinheiro visando lucro nem aceita suborno contra o inocente. 

Quem assim procede nunca será abalado!” (Salmo 15 – Grifo meu) Sem entrar em grandes aprofundamentos teológicos, é possível perceber claramente o quanto Deus considera importante que mantenhamos nossa palavra. 

Que algo fique claro, quando me refiro a Deus considerar importante não estou ignorando o fato de Davi ser autor do salmo, apenas estou considerando, assim como manda minha fé, que ele foi inspirado por Deus para expressar estas linhas. Retornando. Davi (e Deus) é radical neste ponto, e afirma confiantemente que, mesmo que seja prejudicado por isso, aquele que de fato habitará no céu tem como uma de suas grandes e vistosas características o fato de sempre manter a sua própria palavra. Infelizmente este é um ponto no qual sempre observei grande deficiência em muitos dos que se dizem cristãos. 

Estes tratam esse tema com uma irrelevância inexplicável, e muitas vezes riem-se de quem tenta exortá-los quanto a isto. Se você for um deles te afirmo com total convicção: Este assunto não é irrelevante, não para Deus, tampouco para quem precisa se exercitar no domínio próprio e na mansidão todas as vezes que entra em algum tipo de acordo com você. E digo mais, desta vez com pesar: Você é uma vergonha para o Evangelho! Falo como servo de Deus, meu irmão, considere isso para sua vida.

Não volte atrás em suas promessas nem as ignore simplesmente porque se chateou com algo, ou porque não calculou bem a dificuldade envolvida, ou por ter sentido preguiça, ou seja lá por qual razão você pensou em não mantê-las. Ser cristão envolve estas coisas práticas da vida, pois de nada adianta viver uma religiosidade apenas ritualística, isso é absolutamente inútil. Pense nisso. Naquele que jamais muda.

Por Rui Cavalcante, via Púlpito Cristão
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